O ministro das Relações Exteriores de Angola, Manuel Domingos Augusto, mostrou-se hoje (conforme ordens superiores de João Lourenço) receptivo a investimentos russos, após dialogar com o seu homólogo da Rússia. O governo do MPLA ainda não digeriu a participação de Isabel dos Santos, no passado dia 8 de Junho, no Fórum Económico Internacional de São Petersburgo (Rússia), onde esteve com Vladimir Putin e Xi Jinping.
Aliás, o MPLA está receptivo a todos os investimentos, venham eles de onde vierem, seja da Coreia do Norte, da Guiné Equatorial, de Mianmar (antiga Birmânia), Bangladesh, China, Laos, Tailândia ou… Marte.
“Gostaríamos de pedir assistência da Rússia na criação de uma nova Angola, mais aberta a investimentos. Gostaríamos de confirmar e repetir o pedido do nosso líder endereçado ao Presidente russo, Vladimir Putin, para ajudar o sector privado russo a participar na economia angolana através de investimentos directos”, afirmou o governante, citado pela agência russa de notícias TASS. Segundo a mesma fonte, Manuel Domingos Augusto considera que Angola disponibiliza oportunidades para investidores privados e, o que é relevante, seja qual for a origem do dinheiro.
“Gostaríamos que não fossem apenas empresas estatais russas a realizar investimentos directos”, acrescentou o chefe da diplomacia de Angola, não fossem os possíveis interessados temer qualquer constrangimento quanto à lavagem de dinheiro. Aliás, o MPLA pode garantir a todos que em Angola tem as mais evoluídas máquinas mundiais a nível dos diferentes tipos de lavagem e de branqueamento de todos os géneros de… produtos.
Este mês o MPLA pôs o próprio Estado angolano na lista oficial das privatizações, exemplificando com 195 empresas, incluindo a companhia aérea TAAG ou a petrolífera Sonangol. As privatizações serão feitas – segundo diz o Governo – através de concurso público, bolsa de valores, leilão em bolsa e concurso limitado por prévia qualificação.
A calendarização prevê um processo faseado, que se estende até 2022, o que se justifica pelas diferentes modalidades de abertura ao sector privado, segundo a tese do Executivo.
Em conferência de imprensa, conjuntamente com Manuel Domingos Augusto, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, referiu que a Rússia pretende, durante a sua presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, em Setembro, focar a atenção do órgão no continente africano.
“A Rússia irá presidir ao Conselho de Segurança das Nações Unidas no próximo mês, em Setembro, e um dos assuntos chave na nossa agenda diz respeito à assistência às pessoas de África para resolver os seus problemas no que toca a crises, conflitos e outras situações”, disse Lavrov. Por outras palavras, tal como fazia no tempo de José Eduardo dos Santos, Vladimir Putin considera que quem está no Poder é sempre bestial.
A presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas é rotativa e o mandato prolonga-se por um mês, sendo que a Rússia assume a liderança, sucedendo à Polónia.
“Sublinhamos que perante assuntos tão incisivos como a necessidade de uma reforma do Conselho de Segurança, a Rússia mantém uma posição firme de alcançar um acordo lato com o foco prioritário de ultrapassar o principal objectivo da actual composição do Conselho de Segurança, que é uma sub-representação de países em desenvolvimento”, refere a agência russa.
Para o chefe da diplomacia russa, “a cooperação de Estados africanos com os BRICS [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] representou um papel importante na agenda das relações internacionais actuais”.
“Acordámos que continuaríamos com a prática, que começámos em 2018, através de convites das organizações sub-regionais para a cimeira dos BRICS”, disse Lavrov
Em 24 de Outubro, a cidade russa de Sochi irá receber a primeira edição da cimeira Rússia-África, para a qual foram convidados mais de 50 países africanos. Os chefes de Estado da Rússia, Vladimir Putin, e do Egipto, Abdel Fattah al-Sisi, irão co-presidir à cimeira, sendo que este último preside já à União Africana durante 2019.
Uma enorme espinha na garganta de João Lourenço
Recorde-se que a empresária Isabel dos Santos declarou no passado dia 8 de Junho, no Fórum Económico Internacional de São Petersburgo (Rússia) que gostaria que houvesse mais investimento russo nos países africanos, ao falar no painel sobre relações entre África e Rússia.
Em Angola, alguns dos mais emblemáticos e actuais peritos dos peritos do regime, a começar no Presidente do MPLA e passando pelo Presidente da República e pelo Titular do Poder Executivo, tiveram uma indigestão…
Intervindo num fórum económico em que participaram (vejam só!) os Presidentes russo, Vladimir Putin, e chinês, Xi Jinping, Isabel dos Santos destacou as oportunidades de investimento que existem actualmente no sector privado em África, nomeadamente nos da Energia e Infra-estruturas. Desta forma esvaziou tudo quanto João Lourenço possa argumentar para pedir mais fiado.
“A barragem da Capanda, em Angola, é um exemplo de um grande investimento da Rússia naquele país, feito em tempo de guerra, e que ainda hoje serve uma importante parte da capital em termos de energia eléctrica. Gostaria de ver mais investimento russo como este”, disse Isabel dos Santos.
Ressalvando que o investimento da Rússia em África situa-se nos 17 mil milhões de dólares, Isabel dos Santos lembrou que a China movimenta já 120 mil milhões de dólares e citou ainda o caso da Índia que, em apenas 10 anos, passou de um investimento de 7 mil milhões de dólares para 80 mil milhões de dólares, concluindo que “há, portanto, ainda muitas oportunidades de investimento em África”.
Uma das principais áreas de investimento apontadas pela empresária foi a das Infra-estruturas: “As trocas comerciais entre os países africanos são ainda muito difíceis devido às más ligações de vias de transporte. É essencial construir um bom mapa de rotas de comércio interno para libertar o potencial africano”.
Respondendo à intervenção de outros membros do painel – que sublinharam a importância de ensinar os africanos a ler, a escrever e a perceber o que escrevem e que lêem -, Isabel dos Santos notou que a Educação é de facto fundamental, mas que gostaria de ser mais ambiciosa do que isso.
“Ler e escrever é a base, mas temos de ser mais ambiciosos e criar condições para que as pessoas tenham empregos relevantes assim que saem da escola, dando-lhes a formação e as competências de que precisam para ter um papel activo na economia”, sustentou.
A empresária deixou ainda um alerta sobre o facto de África não poder ser vista como um único destino ou uma única região, ao afirmar: “África é uma rede de países muito diferentes entre si, temos de olhar para as diferenças, para as necessidades de cada país e criar projectos que vão desenvolver o continente a longo prazo.”
Depois da sua intervenção, Isabel dos Santos sublinhou que “o sector privado de África é o futuro e que a Rússia e a China entenderam claramente e estão prontas para se comprometerem em novas abordagens para parcerias e investimentos no continente”.
Frisou igualmente que “estas parcerias vão levar África pelo bom caminho, o caminho do desenvolvimento, do progresso e da estabilidade”, concluindo: “Temos um continente com um potencial sem igual. Está na hora de agir, por África”.
Isabel dos Santos participou também num jantar restrito com o Presidente Vladimir Putin e 50 líderes empresariais mundiais, onde foram discutidos assuntos prementes da agenda económica global e aspectos práticos das operações das empresas dos diversos países.
O Fórum Económico Internacional de São Petersburgo é uma plataforma global para membros da comunidade de negócios se reunirem e discutirem assuntos chave da economia na Rússia, em mercados emergentes e de forma geral em todo o mundo. Realiza-se há 21 anos e, desde 2006, conta com o apoio institucional do Presidente da Rússia, que participa em todas as edições.
Folha 8 com Lusa